Quem já teve a oportunidade de mergulhar num recife de corais, pode testemunhar a indescritível beleza de formas e cores, e a grande diversidade de criaturas que habitam estes ambientes marinhos. Frequentemente as pessoas regressam destas experiências tão maravilhadas que decidem levar para suas casas um pouco deste mundo extraordinário.

Aquário de Água Salgada - Recife de CoralÉ sempre recomendável iniciar a montagem de um aquário marinho apenas quando já se domina com sucesso a manutenção de um aquário de água doce. No entanto, pode-se começar logo pelo aquário marinho desde que se procure compreender as suas exigências e de preferência se se puder contar com a ajuda de um aquariofilista experiente.

A montagem de um aquário marinho é a tentativa de recriar nas nossas casas o ambiente do mar, procurando aproximar o mais possível as características da água às condições existentes nos recifes de corais.

Os recifes de corais são abundantemente banhados por correntes e marés. Desta forma a água é bastante limpa e livre de detritos, e os parâmetros da água são bastante constantes. São zonas de profundidade mais ou menos reduzida permitindo que a luz do sol incida também de forma abundante sobre os corais permitindo o seu crescimento. Os corais não são serem plantas, mas precisam do sol para crescer. Isto porque alojam no interior dos seus tecidos algas (que se chama Zooxanthellae) que vão processar a fotossíntese resultando daí a energia extra que o coral necessita para construir o seu esqueleto à base de cálcio.


A água salgada


Um litro de água do mar contém 35g de sais dissolvidos. É uma gama complexa de componentes, sendo os mais conhecidos os seguintes:
  • cloreto de sódio (sal comum)
  • cloreto de magnésio
  • sulfato de sódio
  • brometos de potássio e de sódio
  • carbonato de cálcio
  • etc
Durante muitos anos usaram-se fórmulas de misturas que não se mostravam muito eficientes, dificultando a manutenção dos aquários marinhos. Porém, actualmente, o significado de cada constituinte da água do mar é hoje conhecido, e compreendido, pelo que já há à venda "sal marinho" para misturar com a água da torneira e com o qual se obtém uma excelente água do mar sintética, muito próxima do ideal para as criaturas marinhas de recife.

A água do mar é alcalina. Ou seja, o seu PH situa-se entre 8,0 e 8,4.
Os resíduos provenientes dos animais produzem dióxido de carbono. Este gás dissolve-se na água e dá origem a um ácido fraco que contribui para que o PH se torne ácido (o PH menor que 7 é ácido). Porém, vários factores permitem que, no meio natural, o PH alcalino seja mantido. As algas consomem grande parte do dióxido de carbono, evitando a acidificação da água. Por outro lado os esqueletos de coral mortos, que se acumulam nos recifes, são compostos por carbonato de cálcio que se dissolvem na água, formando uma solução alcalina.

Um recife é por isso um ambiente muito estável. Por todos estes factores, manter um aquário marinho com peixes, requer uma vigilância frequente para se detectar alguma tendência nos parâmetros que se afaste do normal e evitar consequências desagradáveis. Na prática, depois do aquário se encontrar estabilizado, isto requer apenas alguns minutos de trabalho por semana.


Equipamento e materiais


O Aquário

O aquário deve ser de preferência de vidro. Não deve conter peças metálicas, pois em contacto com a água salgada reagirão causando a corrosão, ou ferrugem, ou seja, a deterioração dos materiais. Por outro lado a oxidação dos metais pode também levar à alteração de alguns parâmetros de qualidade da água, com efeitos desastrosos para as criaturas que vão habitar o nosso aquário. Recomenda-se que o aquário marinho tenha no mínimo uma capacidade de 100 litros. Não quer dizer que não se possa manter um aquário marinho equilibrado com dimensões mais reduzidas, mas deve-se ter em mente que quanto mais pequeno for o aquário mais difícil será manter os parâmetros adequados, e maior será o risco de insucesso.

O substrato (ou "areão")

Nunca use areia da praia (aquela areia à base de sílica e quartzo).
Deve ser à base de pequenos fragmentos conchas (alguns aquoriofilistas usam conchas trituradas), ou então, de preferência, areia do recife, que é um material branco à base de restos de coral, que se pode comprar nas casas de aquariofilistas especializada. Este tipo de substrato é fundamental no aquário marinho, é composto quase inteiramente de carbonato de cálcio. É o substrato que vai travar algum aumento de acidez que possa ocorrer no aquário devido aos alimentos e excrementos dos peixes. Lembre-se que a acidez dissolve o cálcio. É preferível que alguma parte do substrato se dissolva do que se dissolvam os corais que habitam no aquário.
Pense no substrato como uma protecção, uma reserva de cálcio.

Metais

Nunca se deve deixar um metal entrar em contacto com a água do aquário. A água do mar é altamente corrosiva. Os metais são de imediato atacados. E para além disso, os metais dissolvidos são venenosos para quase todos os seres marinhos. Não se deve facilitar, nem mesmo com aço inoxidável.

Iluminação

Uma iluminação abundante é fundamental num aquário marinho, particularmente se tiver corais. Deve ser uma luz clara, o mais próximo da luz do sol. Desta forma proporciona-se a luz de que os corais necessitam e podemos apreciar melhor as suas cores bem como as cores dos peixes. Podemos conseguir esse tipo de luz através de tubos fluorescentes ou através de lâmpadas especiais HDI.
Em termos práticos precisamos de cerca de 1v por cada litro. O perigo de termos luz a mais é pequeno pois dificilmente conseguimos mais do que o ambiente natural.
O aquário pode ser colocado numa zona aonde receba luz natural, mas nunca aonde receba luz do sol directa.

Aquecedores

A temperatura dos mares tropicais varia entre 22ºC e os 30ºC. Deve-se por isso manter a temperatura da água do aquário a uma temperatura intermédia, entre os 24 e os 26ºC, através de um aquecedor equipado com um termostato que se regula para a temperatura pretendida.

Circulação da água

É importante que haja uma forte circulação da água no interior do aquário marinho. Desta forma recriamos as correntes marítimas do ambiente natural e contribuímos para que a água mantenha um alto teor de oxigénio que é essencial para qualquer aquário marinho. O oxigénio ajuda a manter a qualidade da água ao decompor a matéria orgânica através da oxidação.

Filtros

Filtro biológico

Placa com ranhuras e furos que se coloca sob o areão, com uma corrente ascendente de bolhas, que vai provocar a circulação da água através do areão. Nestas condições vão-se desenvolver no areão bactérias que vão decompor os detritos ali depositados purificando a água de forma natural (ou biológica).
A placa do filtro deve ser coberta com 5-8cm de areão.
Normalmente a corrente ascendente de bolhas consegue-se através de difusores. Os melhores difusores são os de madeira pois produzem bolhas muito finas o que ajuda também na oxigenação da água.

Filtro de carvão activado

Para além do filtro biológico deve ter um filtro de carvão activado. Trata-se de um receptáculo com uma "tela" de poliéster, preenchido com carvão activado. A este sistema está associado uma bomba de água que vai forçar a água a passar por este filtro. Os detritos sólidos são aprisionados e o carvão activado remove alguns resíduos orgânicos que não sejam eliminados pelo filtro biológico. Com o tempo as bactérias acabam por colonizar também este filtro beneficiando o sistema.
A bomba que trabalha com este filtro deve assegurar uma bombagem total da água do aquário pelo menos três vezes por hora.


Montagem


Primeiros passos

  1. Colocar o filtro biológico e o "areão"
  2. Encher o aquário com água da torneira
  3. Ligar o aquecedor (24-26ºC) e a bomba de ar (associada ao filtro biológico). Deixar a funcionar durante 24 horas para que os cloretos da água da torneira sejam eliminados pela acção das bolhas de ar.
  4. Juntar a quantidade de sal marinho necessário (em função dos litros de água)
  5. Após 24 horas, medir com o hidrómetro a salinidade da água que deve estar entre 1.020 e 1.025
  6. Ligar a bomba de água (associada ao filtro de carvão activado)
  7. Instalar e ligar a iluminação

Maturação do aquário

O aquário está agora montado e a funcionar, mas não deve colocar já os corais, muito menos os peixes. Deve dar tempo a que as bactérias se desenvolvam no areão. O ideal é o aquário ficar uma semana sem peixes ou corais. Passado uma semana deve-se ir introduzindo aos poucos (ao longo de algumas semanas) os corais e peixes, começando pelos mais pequenos. Desta forma a população de bactérias nitrificadoras vai-se desenvolvendo à medida que os nitritos forem sendo produzidos pelos peixes, de uma forma sustentável. De forma que, quando o aquário estiver completamente habitado, já lá temos a quantidade de bactérias com capacidade para tratar todos o nitritos produzidos pelos peixes.

Podemos auxiliar este processo de maturação com a introdução no aquário de um liquido comercializado que contém as bactérias desejadas, ou então colocando uma porção de areão (ou um pouco de pedra viva) proveniente de um aquário já maturado, que irá assim colonizar o novo aquário.

Rocha Viva

São pedras porosas que podem ser compradas colonizadas com plantas e animais vivos (por vezes corais) e se for de boa qualidade e maturada, traz também no seu interior todo um conjunto daquelas bactérias que são benéficas ao equilíbrio biológico do aquário marinho.


Equipamento adicional


O filtro biológico e um filtro de carvão activado podem ser suficientes para filtrar de forma eficaz um aquário marinho. No entanto, o aquariofilista deve conhecer pelo menos mais três equipamentos, que refiro a seguir. Destes destaca-se o escumador de proteínas que pode também ter um papel muito importante na manutenção do aquário:

Escumador de proteínas

protein skimmer - escumador de proteinasDepois de o aquário se encontrar bem estabilizado, vai-se acumulando um tipo de detritos que as bactérias não conseguem decompor com facilidade. Que são as proteínas. É aconselhável pois num aquário marinho a colocação de um escumador de proteínas. Trata-se de um equipamento que produz espuma. Essa espuma gordurosa transporta as ditas proteínas. Assim, produzindo espuma e removendo-a do aquário, estaremos a remover as proteínas indesejadas e estaremos a aumentar a qualidade da água. Este equipamento normalmente fica suspenso no aquário. Através de um difusor de bolhas (que neste caso tem que ser de madeira) ou de um jacto especial (jacto de venturi) é produzido um fluxo de minúsculas bolhas de ar, que, ao subirem, irão criar espuma no interior do equipamento que será acumulada num pequeno reservatório, à parte, para ser rejeitada.

Ozonizador

Este é um equipamento que tem uma função anti-séptica. Produz ozono e dissolve-o na água matando as bactérias e outros organismos que estejam presentes aquário. Deve por isso ser usado com cuidado pois pode acabar por matar também as colónias de bactérias benéficas presentes no areão. É um equipamento muito caro mas pode produzir resultados muito positivos pois pode também contribuir para a decomposição dos nitritos.

Esterilizador de ultra-violetas

Este equipamento tem também uma função anti-séptica. Todos os microorganismos presentes no fluxo de água que o atravessa são eliminados através da acção de raios ultravioletas.


Manutenção Periódica


Trocas parciais de água

Para que seja possível manter os parâmetros da qualidade da água em valores aceitáveis deve-se manter uma rotina de mudanças parciais de água. Depois do aquário estar estabilizado, deve-se mudar 10% da água do aquário pelo menos uma vez por mês. Consiste em remover 10 % da água do aquário e substitui-la com a mesma quantidade de água nova, recém preparada, e com a mesma densidade da água do aquário.

Reposição da água evaporada

A água dos aquários marinhos, evapora-se lentamente fazendo descer o nível da água no aquário. Para reajustar este nível deveremos acrescentar água pura até ao nível que o aquário tinha antes de a água se evaporar. ATENÇÃO: Nunca acrescentar água salgada pois isso aumentaria a densidade da água e a salinidade pondo em risco os seres vivos que habitam o aquário.
Para se manter uma densidade constante, deve-se marcar o nível da água quando esta for colocada pela primeira vez no aquário. A reposição de água deve ser feita sempre até esse nível.
Pelo menos uma vez por mês mediremos a densidade da água para comprovar que não se afastou da densidade pretendida por meio de um hidrómetro (ou densímetro).

hidroxido de calcio - kalkwasserHá grande vantagem de fazer esta reposição através de um processo lento, por gotejamento, em que à água de reposição é adicionado hidróxido de cálcio (ou Kalkwasser). Este método tem que ser porém muito bem controlado para que não se provoquem alterações bruscas do PH e desequilíbrios no aquário. É um óptimo método para fornecer cálcio aos corais e invertebrados e garantirmos que o PH se mantém elevado. O hidróxido de cálcio é um pó branco que pode ser comprado nas farmácias na sua forma pura. Ou então nas casas de aquariofilia aonde é conhecido também por kalkwasser.
O sistema funciona do seguinte modo. Enche-se um recipiente com água, por exemplo uma garrafa. A esta água adiciona-se o hidróxido de cálcio, numa relação de duas colheres de chá para cada 5 litros. Agita-se bem. Depois instala-se uma pequena torneira que faça com que, durante a noite, a água da garrafa pingue para dentro do aquário repondo a água de evaporação diária.
(1 gota = 0,05 ml = 0,00005 litros)
(20 gotas= 1ml)

Densímetro

hidrometro - densimetroTubo de vidro fechado, dentro do qual está um termómetro, e na parte superior uma escala aonde se fazem as leituras da densidade.

Mergulha-se o densímetro na água e após ficar a flutuar na posição vertical observamos o nível da água relativamente à escala, o que nos dá o valor da densidade da água (ou a salinidade) que deve estar compreendida entre 1.020 e 1.025. Deves-se procurar manter um determinado valor, por exemplo 1.022. Mudanças bruscas de salinidade mesmo de 1.022 para 1.023 podem causar stress nos habitantes do aquário.

Testes de parâmetros de qualidade da água

Há testes à venda para diversos parâmetros. Mas os mais importantes são os testes do PH e o dos nitritos. Deve-se ter em casa e usá-los sempre que há suspeitas de que algo não está a correr bem, através da observação dos peixes, corais e seu desenvolvimento. O PH ideal para um aquário marinho está compreendido entre 8.2 e 8.4. As variações no PH da água podem dar origem a vários problemas para os habitantes do aquário. É preferível um PH acima daqueles valores do que abaixo dos mesmos.
Os nitritos devem-se aproximar o mais possível de zero e nunca deve ultrapassar 0,2.


Fórmula util


Tamanho do aquário

O tamanho do aquário depende muito da quantidade de peixes que pretende lá colocar. Existe uma fórmula que pode dar uma ideia da capacidade do aquário em função dos peixes:

V = (10 x A) + (15 x B) + (20 x C)

A - nº de peixes com tamanho entre 1 e 5cm
B - nº de peixes com tamanho entre 5 a 10cm
C - nº de peixes com tamanho acima dos 10cm

Por exemplo se quisermos colocar 7 pequenos peixes, e 4 de tamanho médio, então vamos precisar de um aquário com 130 litros. V= 10x7+15x4 = 130l








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